quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Enche sim!

Simples
mas
Não é pouco
mas
Não cabe
mas
Enche tudo
mais
ECO
OCO

Estou só
falando só...
Que saco!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Inspiração versus Mão.

Momentum. Em três atos.

I
Inspiro
Respiro
Inspiro
Respiro
Não transpiro

II
Papel
Em branco.
Mão atraída
pelo pensamento.
Coração.
Um chororriso franco.

III
A respiração
que foi ofegante
parou.
Entendo
Mas não aguënto
Suspiro.
Lamento.

O Rolex do Huck

"Saí do pulso do meu dono aquele dia, numa rua dos Jardins, e até agora foi só decepção com o Brasil.
Pior do que ser puxado de dentro de uma Porsche Cayenne (ou seria com a BMW Turbo que ele estava naquele dia?) é ficar esquecido dentro de uma mochila. Ainda mais com a secura que anda fazendo em São Paulo.
Estava acostumado a ambientes refrigerados, primeira classe de aviões, jantares na Ilha de Caras. E, claro, tudo isso com a Angélica logo ali ao lado…
E agora?
Para começar, o “correria” já saiu arregaçando a minha pulseira. Mais tarde, tentou me vender numa feira de aves na periferia. Depois, ofereceu-me a um agiota.
Para quem foi fabricado com o objetivo de ser a caixa mais resistente do planeta, é aviltante uma negociação dessa ordem.
Do meu ponto de vista, falta de elegância é pior do que falta de pontualidade.
A Suíça também é um país dividido. Ok, em cantões, e não em favelas e condomínios blindados. Mas mantemos o glamour em qualquer circunstância.
Os tortos do mundo todo não depositam seu dinheiro em nossos bancos? Nazistas? Déspotas? Políticos brasileiros?
Sim. E, mesmo com tudo isso, continuamos com uma imagem de país limpo, verde e civilizado.
Porque temos fineza de espírito.
Nada contra nos roubarem dos pulsos dos lucianos, mauricinhos e plínios. É até uma boa propaganda para a fábrica que me fez.
Mas me trocarem por um 38, meia dúzia de balas, e acabar no pulso de um tira é demais até para quem é à prova de choque."

Excelente Observação do Castelo. Nunca ouviu falar? Aquele do Língua de Trapo, que escreveu o Caseiro do Presidente... Retirado na íntegra do Blog dele! Passa lá!

Dúvida

"Como é isso?
Eu sinto depressão, saudade e digo que estou com um vazio no coração.
O ideal do místico é esvaziar o coração.
Quem tem depressão é místico?
Como sair desta?
Toda depressão e suas variações são causadas por uma ausência; deseja-se que a tal ausência seja preenchida.
Toda mística é caracterizada pelo desejo de ausência; o místico procura estar ausente inclusive de si mesmo; o místico quer o espaço vazio.
O depressivo quer preencher aquele espaço; o depressivo sente o peso da solidão.
O místico quer quanto mais funda a solidão.
Deduz-se que o coração do depressivo não está vazio; está cheio daquilo que ele quer alcançar, está cheio de carências; o depressivo olha para si e tem dó de si mesmo.
O místico tira o olhar de si mesmo: fecha os olhos para entrar no repouso.
No depressivo predomina o movimento, a agitação.
No místico predomina o repouso; a meditação com que ponha o coração no ritmo do silêncio.
Por fim, o depressivo almeja o ter.
O místico almeja o ser."

Mais uma vez na mosca! O texto acima foi extraído na íntegra do Blog do Querido Mestre Manoel Nery. O nome do Blog é SER. Atenção! Nada coincidente, é intencional mesmo!
Observe lá otras cositas más!

Calçada


Calçada
Calcada
Calcária

Calça?
Nunca!
Sunga!

Ela é Carioca, Carioca!

É quase mítica
Lindo sorriso largo!
Tantos dentes
que faz inveja aos pentes
No vestido em branco e preto
ondulado feito desenho da calçada
veio embrulhada para presente.

Dourada,
alguns sinais
mas é sempre linda
a pele bronzeada

Alta produção:
perfumes, cabelo, maquiagem...
Pode até parecer dar bola
mas fique atento!
Pura molecagem!

Como naquela velha bossa
fique a Observar
Ela é carioca, ela é carioca
Olha jeitinho dela andar...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O trem que chega é o mesmo trem da partida

Até domingo 28/out provavelmente ficarei sem fazer minhas Observações por conta de uma viagem à Cidade Maravilhosa.
Voltarei, não abandone, fique Observando. Observando tudo!
Até já!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Olhar de quem Observa(va)


De soslaio
com sorriso franco.
Dias de Sol
Lentes escuras
Nenhum engano!
Abrirei os óculos
para veres mais!
...
O mundo gira e
(nos) encontramos
entre olhares.
...
Mais dois passos e
sem óculos
(nús) encontramos.

Pesquei na web

Vejam este blog português.
Sujeito provocador, interessante!
Invertido

Lamento!

Pablo Picasso [Femme au miroir] Março, 1932


Invejo,
em mim
não vejo.
Anular sentimento
com o pensamento?
Lamento!

domingo, 21 de outubro de 2007

Prioridades

Prioridades
sempre teremos.
Trabalho
Comida
Amigos
Religião
Trabalho
De novo.
Trabalho
Comida
Amigos
Religião
Trabalho
Tudo com muito amor,
mas o coração em desuso.
Prioridades erradas
e o tempo implacável
na janela, no fim da tarde.
Tudo de novo?

I Feira do Livro de São Luís

Fui à Feira do Livro e fiquei emocionado por ver que o povo Brasileiro é ávido por cultura de qualidade sim!
Impressionou a quantidade de famílias de todas as classes ali presentes.
A estrutura estava muito boa. Banheiro limpo, espaços para descanso, lanchonetes, programação com boas atividades e para todas as idades, espaçosa, bom humor dos que ali trabalhavam e claro, muitos livros.
Só lamento não poder voltar durante a semana por conta de uma viagem que farei, mas se estiveres em São Luís, vá! Mesmo que não compre nada, aliás, os preços não eram o maior atrativo, diga-se de passagem, mas vale o passeio.
Muito bom! Prestigie!

sábado, 20 de outubro de 2007

Gratidão!

Noutro dia recebi um e-mail de um ilustre amigo parabenizando por isso ou aquilo, coisa que ainda acho que não é por aí, que é bem menos, e na resposta ao seu e-mail, caí na gratidão.
Respondendo, me lembrei o porquê do blog, uma vez que falávamos dele.
Ele existe por conta de cada um de vocês. Os citados, os lembrados, os homenageados, todos.
Obrigado pela inspiração e perdoem-me pelos erros e tudo mais.
Gostou? Comente! Se não, também sim (bom isso)! Mas sempre Observe por aqui.
Beijos e abraços!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Passarinho que come pedra, sabe o... o... sabe o "bico" que tem!

Existem pessoas e pessoas. Até aí nada de novo, mas como saber se são válidas de crédito? Dê corda. Umas fazem coisas lindas com uma, outras são capazes de amarar o mais pesado dos navios ao porto, outras utilizam para escalar enormes precipícios, outras se enforcam; coitadas.
Tem custo? Sim, crédito custa, custa para quem dá e não recebe de volta, mas e aí? Piedade e compaixão, é o melhor nestes casos.
Amigo, quem tem medo não vive!
Credite, acredite! O máximo que pode acontecer é o desengano, mas é superável. A sua lamentação é sempre maior que a dor, que o motivo, preste atenção nisso!
Seja sempre gentil, verdadeiro, humilde e simples. O resto é produto natural.
Ah, porque escrevo isso hoje? Nada (quase), apenas mais um entreveiro...
Buda diz que quando falamos é como se apontássemos com a mão e com o dedo indicador em direção à alguém; teremos um dedo apontado à frente e três apontados à nós mesmos. Entendeu agora?

Café Completo!

Não estou afim de entreveiro nenhum meu hoje.
Faço das palavras da célebre Lya Luft para definir o programa do final de semana:


"Na mesa de cada pessoa deveria existir: pão, leite, café e um livro."

(Lya Luft)


Vá à I Feira do Livro de São Luís! (18 a 27 de outubro – Memorial Maria Aragão)

Um excelente programa, barato e recheado de coisas para Observar!

Tira a bunda do sofá, sacode a areia da praia, vista-se de cultura por favor! Pelo menos um dia!

Sintético

Mais direto impossível! Albert Camus sabia ser sintético quando queria:

“Você sabe o que é o encanto? É ouvir um sim como resposta sem ter perguntado nada”.
(Albert Camus)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

"Amo"

Vladimir Vladimirovich Mayakovsky, nascido em 19 Julho de 1893 na Georgia, na cidade de Bagdadi, depois chamada de Mayakovsky em sua homenagem, um Ser barulhento (Adorei esse adjetivo!), inquieto e extremamente politizado deixou como herança para nós mortais alguns textos, poemas e pensamentos divinos.
Vejam como consegue ser doce, delicado e pesado ao mesmo tempo neste trechinho.
Com o tempo postarei e falarei mais deste Ser, tentando fugir do lado político que é o mais conhecido.

AMO

"...
Mais do que é permitido,
mais do que é preciso,
como um delírio de poeta
sobrecarregando o sonho:
a pelota do coração tornou-se enorme,
enorme o amor,
enorme o ódio.
Sob o fardo,
as pernas vão vacilantes.
tu o sabes,
sou bem fornido,
entretanto me arrasto,
apêndice do coração,
vergando as espáduas gigantes.
Encho-me dum leite de versos
e, sem poder transbordar,
encho-me mais e mais
..."
(Vladimir Mayakovsky)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Escapou e foi "Blogado"!

Escapou quase que sem querer, num vacilo meu, numa corrida de dedos no teclado... e está "blogado"!

Às vezes espero ser conjectura
Coisa minha, pura loucura.
Se esfria não há cura.
Numa mente doida
passa tudo.
O que lembro
do que v(ic)ejo,
até mudo
é o que fica.
A lembrança
é só tua.
Minha.

“Os Mirantes de São Luís, leitura do mundo”

Ouço sempre uma reclamação local por falta de eventos culturais na cidade de São Luís.
Pois bem, agora há um excelente evento, Observarei quantos dos que reclamam irão participar!

1ª Feira do Livro de São Luís
18 a 27 de outubro – Memorial Maria Aragão
“Os Mirantes de São Luís, leitura do mundo"

Programação: Seminários, Simpósios, Encontros, Oficinas, Apresentações Culturais e Artísticas

Aproveitem!

http://www.feiradolivro.saoluis.ma.gov.br/

O Auto-Retrato

Recebi estes versos de uma amiga e resolvo compartir com vocês.

A querida Neta, Observadora que ela só, já ebria pelos ares da cidade de Alegrete-RS, berço de um dos ícones da literatura Gaúcha, me enviou O Auto-Retrato de um dos filhos mais ilustres da cidade: Mario Quintana.

Aqui, devidamente Observado!


O AUTO-RETRATO


No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...


às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

(Apontamentos de História Sobrenatural - Mário Quintana)

A densa Sra. Hilst

Minha cabeça, corpo, membros e alma andam meio atordoados, impacientes, por isso não prometo coisas minhas nos próximos dias. A produção está a mil, mas requer revisão, ando encontrado erros primários em postagens antigas. Vergonha.
Ainda assim, uma Observada neste da densa Sra. H. Hilst, que vale quanto pesa!

"O Tempo e sua fome.
Volúpia e Esquecimento
Sobre os arcos da vida.
Rigor sobre o nosso momento.

O Tempo e sua mandíbula.
Musgo e furor
Sobre os nossos altares.
Um dia, geometrias de luz.
Mais dia nada somos.

Tempo e humildade.
Nossos nomes. Carne.
Devora-me, meu ódio-amor,
Sob o clarão das despedidas.

Desgarrada de ti
Sou a sombra da Amada.
Das madeiras da casa
Farei barcas côncavas

E tingirei de negro
Os lençóis de fogo
Onde nos deitávamos

Velas
Bandeira para minhas barcas.

E de dureza e arrojo
Hei de chegar a um porto
De pedras frias.

Memória e fidelidade
Meu corpo-barca
Esmago contra as escarpas.

De luto e choros um dia
Verei tua boca beijando as águas
Teu corpo-barca. Minha trilha."

(Hilda Hilst)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Observando Leminski

Existem textos que tem face. Você lê e automáticamente remete a alguém.
Este me lembra um Ser iluminado que vive em busca do seu Eu diáriamente!
É para você ilustre amigo!


"Disfarça, tem gente olhando.
uns olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando
olhando ou sendo olhado
Outros olham pra baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada."


(Paulo Leminski)

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Bom apetite!

A cada dia perdemos mais algum costume e gentileza de tempos passados culpando o mundo moderno, a falta de tempo disponível e outras desculpas, mas na verdade isso ocorre por não querermos mais aprender algumas coisas que parecem ser tradicionais por puro pré-julgamento, e estas podem ser itens disponíveis para o conhecimento do outro e composição de uma relação.
Note que a algum tempo atrás, as pessoas eram educadas para sentar-se à mesa. Evidente que com a variante de sua situação social, mas com noções no mínimo básicas e uma cobrança muito rígida.
Hoje é um tanto triste. As pessoas, e quando digo desta forma, digo pela média, esqueceram ou nunca tiveram contato com a possibilidade de conhecer o outro durante atos simples e igualmente nobres como uma refeição.
Veja a situação:
Ela, linda. Um vestido sem igual, divinamente penteada e maquiada. Perfumadíssima. Ele tão elegante quanto. Destino? Um jantar.
Com direito a todas honras e pompas, sentam-se frente a frente. E aí começa o espetáculo. Uma verdadeira dança do acasalamento!
A forma delicada como ela pega no guardanapo e deita no colo já chama atenção.
Champagne aberta. Um brinde! Sorriso largo, intenso...
Risadas. Mais champagne.
Logo chega a entrada. A forma como ela que apanha o garfo com a mão esquerda e lentamente leva até o prato, apanha a comida e leva à boca, parece que foi ensaiado, tamanha delicadeza e espontaneidade.
Entre uma garfada e outra, conversa, mais risos. Suavemente, limpa a boca e toma um gole d'água.
Não vou narrar o jantar inteiro nem me deter no significado de cada gesto pois não saberia, sou um apreciador e sem pretensão de ser um estudioso no assunto, mas definitivamente pode ser excitante, percebe?
Pronto. Agora imagine a mesma pessoa numa roupa casual, sem muita maquiagem, lanchando um Mc. Donald numa praça de alimentação de um Shopping lotado, comendo e falando, além de atender ao celular e acenar para uma amiga em um ponto distante, tudo isso ao mesmo tempo e debruçada sobre a bandeja de plástico reciclado que é comum nestes locais.
Esse exemplo não anula a possibilidade de ser elegante comendo um Mc. Donald! Alto lá! Também não quero afirmar que somente num jantar com certa dose de solenidade há o charme, provocação, delicadeza e outras tantas sensações despertas, não é isso, apenas peguei dois extremos para ilustração!
Não é o caso de etiqueta ao extremo, mas se cada um fizesse o que sabe, o que lhe foi ensinado quando criança, sem forçar, ficaria melhor para todos ou pelo menos mais bonito!
A forma com que arruma o cabelo, como se senta, como mastiga, como se porta, pode mudar completamente a opinião do outro, pois expõe a pessoa numa situação de análise muito íntima. É como um cartão de visita, onde ao invés do seu telefone e e-mail ele expõe o tipo de criação e a sua preocupação para coisas sensíveis e delicadas, e que muitos teimam em sintetizar por Educação.
Com o homem acontece exatamente o mesmo. A mulher está de olho em você amigo, e cuidado, pois ela tem olhos de Línce!
Experimente, tente ser um pouco mais cortês e veja o resultado! Não é frescura, tente!
Perceba, não chama sua atenção quando o outro consegue "montar" uma situação envolvente? E o que você faz normalmente no dia-a-dia para ser envolvente também? Como você se apresenta por aí?
Cuidado com seu cartão de visitas, e observe bem, todos estão sempre te Observando!
Ah, e claro, bom apetite!

domingo, 14 de outubro de 2007

Aurora

Despercebida diariamente
Mágica até no nome:
AURORA
De cor lilás,
e laranja passando pelo azul
Todo dia
Um espetáculo novo perdido
Tem cheiro fresco
Brisa
Friozinho...
Vendo assim
a insônia tem mais sentido!

sábado, 13 de outubro de 2007

Sempre um tanto metafórico...

Ah se eu pudesse, se eu conseguisse dizer tudo de forma clara.
Parar com as metáforas e tirar o véu que cobre o emaranhado do meu ser.
Às vezes achas que não foi para ti. Mas foi. Foi sim... Sempre foi e eu só queria que sempre fosse, mas esse pedido eu não posso fazer. Só sei que também não consigo fugir.
Há de ser natural; naturalmente vivo.
Feeling Princesa do Lago Lindo! Feeling!
E o resto que se foda!


EU MATO QUEM PEGOU MEU GARDENAAAAL!!!

Lago fundo; Lago raso

Aquele lago que me estatelei (novamente), parecia fundo.
A margem muito bem ornada, o tamanho, deixou-me cego. A falta de capacete foi imprudência, eu sei, mas eu via muito mais que um simples mergulho.
O que via da margem, o anjo que me chamava, gesticulava e fazia caras e bocas, era somente um reflexo. Reflexo meu, do meu corpo, da minha alma, muito distorcido pelas ondulações na lâmina d'água com o Sol da manhã.

Bons são meus abacaxis

O pai de um nobre amigo, durante algum tempo plantou abacaxis; os melhores e maiores que já comi! A plantação não era o foco principal da produção de todas terras que detêm, mas cuidava com o mesmo esmero das demais colheitas.
Um dia, conversávamos sobre gente, seres-humanos, e a dificuldade na lide diária, no manejo, como se diz no campo.
Com a sobriedade ímpar que lhe é peculiar, quase num tom de desabafo nos brindou com essa:
- Bicho-gente é muito difícil, bons são meus abacaxis! Basta plantar na época certa, aplicar uma única dose de agrotóxico, água um dia sim, dois dias não, sol em abundância, tempo para crescer e pronto. Serão divinamente suculentos e doces. Gente exige manejo diário, e esse manejo muda todo dia, não há uma rotina pré-estabelecida, conhecida, e cobra resultados muito maiores por isso que os meus abacaxis.
Sabe que em certo aspecto ele está certo? Abacaxis são tão bons... E se tiveres a falta de sorte de pegar algum ácido demais, coloque açúcar, faça um suco ou quem sabe uma compota.
Excelentes abacaxis! Melhores e ainda mais doces quando se têm alguém para dividi-los!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Mudo silencio

Silencio.
Emudeço porque quero.
Só quero achar o verbo
Doce, sim,
à ti sempre doce,
não ousaria ser diferente.
Mudo por receio.
Só saiba que quero,
indiferente à todo silêncio
Desejando nosso silêncio.
Todo meu sentimento,
coisa silenciosa,
era meu.
Já não me pertence,
não comando.
Psss...
Não faça barulho nenhum.
Me olhe.
Leia nos meus olhos o não dito
e acredite,
credite:
Quero toda.
Verbalizar tudo.
Não em versos banais
que não cabem.
Quero verbo que permita
que caiba e que dê vazão.
Alguma sugestão?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Poema Enjoadinho

Noutro dia conversava sobre o plano que todos (ou quase todos) têm em ter filhos, e mais tarde, pelas minhas caminhadas na web soube que uma amiga de juventude, hoje um tanto distante, está grávida. A lembrança deste poema ao vê-la grávida foi automática.
Depois que passa o tempo, depois que temos certas experiências, a ótica muda. Sempre achei este poema engraçadinho, bem torneado, delicado. Mas na verdade é muito mais que isso, é puro e verdadeiro.
Parabéns aos (futuros) papais e mamães, e se você está na dúvida, aprecie o poema com a prudência e delicadeza que a causa merece.

Poema enjoadinho

Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos?
Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

(Vinicius de Morais)

A Lady

Numa empresa, trabalhei com um rapaz que era homossexual assumido. Bem resolvido, no alto dos seus quarenta e tantos anos, dizia gostar de homem, mas que não suportava homem que tem necessidade de ser como mulher, que quer falar como mulher, que quer negar a condição masculina própria. Muito discreto, passaria por heterossexual em qualquer ambiente.
Num determinado dia chegou uns vinte minutos além do de costume. Visualmente irritado, começou a trabalhar de forma mais enérgica, rápida, como se quisesse colocar o trabalho em dia.
Passado alguns instantes, gentilmente ofereci uma caneca de café.
Ele aceitou e senti que poderia puxar assunto.
- O que há contigo, estás nervoso com alguma coisa? Algo que posso ajudar? - Tentei.
- Não, não - disse ele - na verdade só estou bravo com uma situação que aconteceu agora cedo.
- Ontem, - continuou - conheci um cara, simpático, bonitão. Bebemos, dançamos e resolvemos ir para um Motel. Foi muito bacana, mas o terror aconteceu de manhã.
- Imagine, acordei na hora exata, se eu não fizesse nada errado, chegaria no horário. Corri, mas a "lady" que estava comigo...
- Você não acredita, - já num tom mais bravo e gesticulando muito - ele conseguiu me atrasar. Não queria acordar de jeito nenhum! E no banho? Ah, não tenho palavras para te descrever! Acho que em determinado momento fui um tanto agressivo e ele não entendeu.
- Veio com uma conversinha mole, do tipo: Poxa fulano, ontem você estava tão carinhoso, foi estupendo e agora age assim, de maneira fria. E o que me disse no meu ouvido? Pensa que eu esqueci? No furor da cama você até disse que me amava!
- Aí não prestou mais, eu já estava pronto, mas a bichinha ainda se arrumava e argumentava.
- Olhei fixamente nos seus olhos e disparei: Rapaz, você tem quantos anos mesmo?
- E com 27 anos você ainda acredita em homem bêbado? Ah, se manca, vamos logo que estou atrasado!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Tô só

Alguns já sabem da minha predileção por Hilda Hilst. Mulher densa, profunda, inteligente (gosto disso), ao mesmo tempo doce demais, apaixonada... uma loucura, uma poeta!

Como cronista, ela escreveu durante um tempo para o Correio Popular, o maior jornal da região de Campinas. Vejam essa publicada em sua coluna. Com o tempo colocarei outras cositas dela.



"Tô só


Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve meu passo
em vosso caminho.
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha."

Saudades

Vazio
Oco
Como ousas
Ir e levar tudo?
Saudade foi o que deixaste.
Sim, saudades!
O tempo não existe,
é invenção tua!

Rouborizou a face, mas devidamente Observado!

Estes carinhosos versos foram escritos pelo Mestre Manoel Nery, e a vaidade não coube em mim, transbordou. Apresento-os para serem devidamente Observados. E por falar em Observar, já observaste o Blog dele? E o arquivo? Então saia imediatamente daqui e vá lá primeiro! Aqui é só um apanhado, um entreveiro maluco, lá têm conhecimento!
Obrigado Mestre! Dizes que o ajudo de alguma forma a carregar o piano, só tenho a dizer que sou fraquinho, mas a intenção é a melhor!

Rodrigo,
Gosto de poesia.
Que alegria!
Faz referências a mim
Que eu não sabia.
Mas é assim o destino.
Quando menos se pensa,
Um pente fino
Nos chama à razão do próprio ser.
Como acontece com Rodrigo:
De assim viver,
Logo mais lhe desperta a poesia
É o que digo.
Nas asas de Ferreira Gular,
Mestre da virilidade poética.
Mas Rodrigo tem o modo dos modernistas:
Quebra o tom por uma galhofa.
Sutil, fina
Que deixa transparecer
Alma menina,
Uma luz acesa, um clarão
É Rodrigo em ação,
Por exprimir a voz do coração.

Minha humilde resposta ao Mestre:

Mestre,
não mereço,
mas agradeço,
envaideço,
ruboriza-me a face,
mas se é o Mestre quem diz,
calo, como sempre fiz.
Seu eterno aprendiz.

Pescado pesado, denso!

Olhem a densidade do texto Lascívia pescado do Blog Sol Noturno, aqui por ele(a) mesmo(a).
Comentarei noutra hora.
Boa Leitura!



"Lascívia

Era muito vago em sua mente a primeira vez que Fada o viu, recordou-se deste dia por palavras vindas dele mesmo. Ela não tinha certeza se havia sido daquela forma. Philotes estava presente. Confirmara. Mas, para Fada fora um dia esquecido em tantos outros.
Lembra-se da primeira vez que ouviu sua voz... um forte desejo soou em seu corpo. Teve vontade de devorá-lo. Fada o observou. Era lascívio.
O olhar de Erebos¹ penetrava suas entranhas. Imaginava como seria ser possuída por ele: fúria lascívia de satisfação do desejo e Fada excitava-se com esses pensamentos libidinosos, enquanto o observava seu desejo aumentava, ela queria entregar-se àquele ser sombrio que causava tantas sensações luxuriosas.
Fada se retraía, algo nele a temia, ela não sabia distinguir o que era, e ao mesmo tempo que queria que ele a consumisse, ela o queria distante, que nunca a tocasse.
Não entendia, ora a face sombria de Erebos a repelia, com seu jeito de parar e ficar sozinho no meio da multidão, seu silêncio sepulcral e ora a atraía, pois curiosa ela devoraria sua mente, degustaria suas idéias, consumiriam-se em seus olhares. Ele a temia.
A antítese dos desejos os distanciava, não era tempo de aproximações, era muito escuro ao lado de Erebos e Fada precisava de luz, de certezas e ele, ainda, não permitia que elas resplandecessem em todo seu corpo, a não ser quando entregava-se a lânguidos desejos noturnos ou quando as notas musicais o invadiam.
Mas, em certas noites de lua cheia em que as incertezas desaparecem e o rosto de Erebos ilumina-se, sem pensar em seus temores, se entregam, se consomem, se devoram, se permitem, gozam e acabam por descobrir que ela odeia bolos e ele adora biscoitos. Ele é a própria utopia, ela a certeza (de que nada é como gostaríamos). Eram livres. Combinavam nisso... e no atrito da cama.
Eles se temiam."

(1) Segundo a teogonia, Erebus, Érebos ou Érebo era a personificação da escuridão superior que se encontrava pouco mais funda que o manto da noite eterna de Nix. É irmão de Nix e filho de Caos. Desposou a irmã e com ela gerou o casal de gêmeos Éter e Hemera.
Erebus possuía seu reino nas trevas mais profundas de todo o Universo, como o primeiro filho de Caos nascido é o que mais próximo ficava de seu criador assim sendo as puras Trevas.
Conta-se que os
titãs pediram socorro a Érebo, mas Zeus o lançou junto com eles no inferno. Desse modo ele tornou-se a noite eterna do mundo dos mortos.
Na medida em que o pensamento mítico dos gregos se desenvolveu, Érebo deu seu nome a uma região do
Hades por onde os mortos tinham de passar imediatamente depois da morte, para entrar no Hades. Após Caronte tê-los feito atravessar o rio Aqueronte, entravam no Tártaro, o submundo propriamente dito.
Diz que quando Erebus despertasse de seu aprisionamento ele seria o primeiro dos Sete Primordiais que levaria o despertar a todos os outros, podendo assim novamente erguer seu reino que Tártaros, Nix, Urano e Caos o ajudaram a erguer em tempos mitológicos.
Tal como o nome do rei subterrâneo, Hades, o nome Érebo passou a designar também o seu reino.
Erebus era também, frequentemente usado como
sinônimo de Hades.

domingo, 7 de outubro de 2007

Lua Nova

Amanhã Lua nova.
Sem brilho,
Sem luz noturna por perto
mas com muita energia.
Teus olhos, Lua
coração, Sol
com brilho longe
Aqui é escuro demais
Não têm presença.
Tem energia.
Demais também.
Sinto perto,
Até o perfume...
A presença não é física
Não há toque,
mas sinto a tua pele.
E isso não é física?
Um anjo
E sendo,
me ouves sempre?
Então,
atenda-me por favor!


Agora, pára e pensa comigo: Amanhã a Lua estará alinhada com o Sol se visto da Terra, concorda? A ordem será: Terra - Lua - Sol. Se tanto o Sol quanto a Lua emi(tem) energia, imagine como será o dia! A energia do Sol, a estrela mais próxima da Terra, da qual sofremos influências diretas, e a Lua, o nosso único satélite natural que nos afeta diretamente também!
Enjoy it!

sábado, 6 de outubro de 2007

Ouço
Verbo
Perto
Vibro
Quero
Tenho
Não,
não tenho
Sempre
Quase
Oco
Tendo
Meu
Teu
Tudo
Liberdade:
Não é mais minha.
Funde
Deixo
Fundo
Não eu.
Tu.
Nós.
Ai que maravilha!
Haja coração,
pensamento!

QUEM ROUBOU MEU GARDENAAAAALLLL?

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Pssss... Silêncio! O comentário prometido!

Há poucos dias, numa das minhas andanças pela web achei e pincei um poemeto do Paulo Leminski; uma pérola!
Parecia-me barulhento demais esse Mineiro no tal texto... e provocativo como gosto de ser, encaminhei para um dos seres mais silenciosos que conheço.
Engano, ledo engano e distração minha, para não falar da falha na interpretação...
Mais uma vez, rendo-me ao Mestre Manoel Nery (Você tem que ir ao blog dele! É muito bom, já te falei!).

Novamente observe atentamente o texto:

"Deus queria falar comigo
Não Lhe dei ouvidos
Quem sou eu prá falar com Deus?
Ele que cuide de seus assuntos
Que eu cuido dos meus!"

Agora, observe a interpretação deste Ser silencioso que é o Manoel:

"O texto é paradoxal porque se apresenta pelo lado “barulhento”, mas o autor, embora se imagine escondido, não consegue reter sua sensibilidade.
Leminsk está dando ênfase ao silêncio: quando afirma que não deu ouvidos a Deus, está preservando sua audição; quer silêncio, nada de barulho.
Depois querer o silêncio, agora ele se interioriza com humildade: “quem sou eu pra falar com Deus”? Se Deus o tivesse escolhido, era encarar; não havia o que rejeitar.
Leminsk sabe que os “assuntos” de Deus são os homens; os homens em sua interioridade.
Perceba-se que o autor nivela a palavra “assuntos”, tanto os de Deus, como os “meus”, os dele.
Os assuntos de Deus são os homens, o Leminsk é homem; os assuntos de Leminsk são os assuntos de Deus.
Dessa coincidência no trato de assuntos, resulta que os dois vão se encontrar porque estão voltados para um objetivo comum.
O lugar de encontro só pode ser no coração."

Amigos, depois dessa, reservo-me o direito de permanecer em silêncio. Eu hein?!

Rumm siô!

Numa praia do imenso e lindo litoral Brasileiro, três amigos bebericavam uma cerveja gelada devidamente acompanhada de Pititinga¹ frita.
Os três falavam sobre os mais diversos assuntos entre goles, petiscos e baforadas de cigarro.
Eis que apareceu uma criança, se é que se pode chamá-la assim. Não aparentava ter mais de 10 ou 11 anos. Magra, esquálida, já com as marcas da vida dura no rosto, ainda que a vida seja tão nova para ela ainda. Se aproximou e com um sorriso moleque pediu ao que fumava:
- Ei moço. Me dá um cigarro?
Um susto. O trio que ali bebia era do tipo que podemos classificar como "vivido", mas não estavam preparados para uma abordagem dessas. Um deles ainda tentou argumentar, mas sem conseguir esconder a surpresa do pedido:
- Mas menina, com a tua idade, já fumas?
Ela com um sorriso enorme no rosto que, apesar da falta de alguns dentes pela troca natural da idade, não era mais um sorriso de menina, era de gente mais velha, maliciosa, exclamou:
- Rumm siô! Se inté fodo!
Atônitos, deram o cigarro. Ela acendeu e saiu pulando e pitando, feliz da vida pelas ruas da cidadezinha.
Os amigos? Pagaram a conta e foram embora. Não tinham mais o que ver naquele dia; o papo azedou, a praia havia ficado sem graça, a cerveja quente e a Pititinga¹ fria...

Não ouse rir, ou pelo menos contenha-se, é um problema social sério!

(1) Pititinga é uma espécie de Piaba, um peixinho que mede uns 5cm e prepara-se sem nenhum cuidado excepcional, pelo tamanho não pode ser limpo, ou consertado como dizem naquela praia narrada, é frito após ser temperado com sal, alho, azeite e limão. Uma delícia regional!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O filho Ilustre de Dª Zizi

José de Ribamar Ferreira. Maranhense, Ludovicense, filho de Dª. Zizi (Alzira Ribeiro Goulart e do comerciante Newton Ferreira), ela, vaidosa demais, falecida recentemente, que é mãe de Alzira (sim o mesmo nome da mãe) e de mais 10, 11 no total. Alzira, a filha, teve dois filhos e uma filha. Mas como a família é enorme, não vou me alongar. Na casa da família é chamado carinhosamente por Tio José. Estreou na poesia em 1949, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1951 onde começou como jornalista e daí não parou mais. Foi exilado político e vivendo em Moscou, Santiago, Lima ou Buenos Aires não parou de trabalhar. Na opinião de alguns críticos é atualmente uma das vozes mais expressivas da poesia brasileira. A linguagem que utiliza vai além do horizonte das palavras, pois o poeta é também crítico de arte e pinta quadros, faz desenhos e colagens. É o que ele chama de seu "lado B".
Mas você deve conhecê-lo mesmo por FERREIRA GULLAR.



Cantiga para não morrer


Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

De Dentro da Noite Veloz (1962-1975)
Deleite-se com o site oficial do poeta multimídia.

Um passo,
mergulho.
Cara estatelada no fundo.
Parecia piscina,
era espelho d'água

Outro passo,
mergulho.
Cauteloso.
Não dá pé!
Lago imenso, muito profundo.

Sem bóias nem capacete,
persistente,
aprendendo sempre a nadar
com coragem,
sem parar de mergulhar.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

FEELING! Tenha sempre na bolsa!

As pessoas se preocupam demais, vivem em busca dos seus desejos, dos seus anseios, mas não se desvinculam do passado! Vivem atreladas, amarradas de um jeito ou de outro ao que já foi, e o pior, vivem sem querer viver isso, vivem escravas do que não as segura! Pode? Poder pode, não deve, mas cada um com a sua pena.
O que acho mais intrigante é que se escondem dele, nele (!), e por tentarem se esconder atrás do que já foi, se atrapalham e se confundem.
Enfim, se é difícil explicar sem viver, imagine a pobre alma que vive com isso.
Elas suplantam em nome da razão seus sentimentos, aniquilando os outros sentidos por algo que elas não querem mais!
O ser humano é um bicho interessante mesmo, mas não é a minha estória querer ou tentar entendê-lo, deixarei isso com os profissionais...
Apenas comecei esse textículo para fazer uma propaganda de um novo remédio.
Já é um sucesso arrebatador nas Zoropa, França e Bahia, já conhece?


É isso mesmo: FEELING! Amplamente receitado aos que teimam em utilizar um outro, de tarja negra. Não gosto nem de ouvir falar o nome, afinal é meu concorrente, mas como aqui é preciso eu digo: TIME.
Este outro é necessário no começo da "doença", é importante tomar sim, mas não se deve expor o organismo por muito tempo (principalmente o de terceiros, pois ele age nos seus próximos quase que por osmose). O TIME serve como terapia de choque. Depois de algum tempinho, bem curtinho de uso, é impreterível que seu médico receite o FEELING. Faz com que alguns sentidos do seu corpo aflorem novamente, exatamente aqueles que o TIME apagou. Dizem por aí, que faz bem até para a pele, mas não há comprovação científica ainda, parece estar ligado com sensações pós tratamento.
Experimente! Está disponível em comprimidos, gotas e supositórios!
Solicite-nos já a sua amostra grátis! São apenas 2 cápsulas diárias para restaurar sua vida novamente! Viva melhor, tenha sempre FEELING!
Não entendeu? É que tem endereço certo... sorry! Serviu? Só não me peça as amostras, vai!

José Agradecido ou Profeta Gentileza

(José Dartrino, 1917~1996)

Não conhece? Lembra mas não sabe de onde?
Dizia-se “Amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento”... escreveu nos 56 pilares do Viaduto do Caju no Rio de Janeiro as palavras mais gentís ao seu alcance... Lembrou?
Já como andarilho pelas ruas do Rio de Janeiro, quando o chamavam de louco, ele respondia: - “Sou maluco para te amar e louco para te salvar“.
E como diria Voltaire: - "Somos todos malucos. Quem não quer ver malucos, deve quebrar os espelhos". (Sim, peguei a frase do seu profile... não resisti! Mas só peguei o que estava ao meu alcance... uma frase, um olhar, algumas colegas e a tua dura verdade.)

Deleite-se: Museu Virtual Gentileza

Pssss... Silêncio!


"Deus queria falar comigo
Não Lhe dei ouvidos
Quem sou eu prá falar com Deus?
Ele que cuide de seus assuntos
Que eu cuido dos meus!"

(Paulo Leminsk)


Parece barulhento, mas não é... noutra hora publico o link de um comentário excelente!

Mas comente! Fique à vontade!

Qualquer semelhança não é mera coincidência!

O ANALFABETO POLÍTICO
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.
(Bertold Brecht)

Tão atual quanto se tivesse sido escrito hoje... a semelhança não é mera coincidência, é culpa! NOSSA CULPA! MINHA E SUA TAMBÉM!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Exercícios - 5

"...Áspero é teu dia.
E o meu também.
Inauguro ares e ilhas
Para que o teu corpo se conheça
Sobre mim, mas é áspera
Minha boca móvel de poesia,
Áspera minha noite

Porque nem sei se o canto há de chegar
No escuro labirinto em que te fazes,
Nessa rede de aço que te envolve,
Nesse fechar-se enorme onde te moves.

Trabalho tua terra cada dia
E não me vês.
O teu passo de ferro
Esmaga o que na noite foi minha vida
E recomeço. E recomeço. ..."

(Memórias - Hilda Hilst)

Tão real quanto um sonho bom

Ontem me visitaste.
Toda de branco, alva, me dizias coisas simples,
nada haver conosco.
Estavas linda como sempre!
Doce. Feliz. Cheia de luz.
Olhos com brilhos estrelares, miúdos, como de quem olha para o Sol.
Aquele aroma costumaz, inebriante,
e o frescor no hálito? A boca úmida, louca,
essa mesma que me hipnotiza e me chama para mais perto...
Borboletas que voavam ao redor, fixavam-se em sua pele.
Verdadeiras tatuagens naturais de cores mil.

Com o mesmo impulso que vieste, foste embora;
e dali em diante findou-se o sono.

Frase de Mestre! Ou, muito boa Pensadura!

Pesquei esta frase de um Mestre. Desses humildes seres que a vida nos brinda e que se contados não encherão os dedos de uma só mão.
Manoel Nery, meu querido, obrigado pelas palavras tão raras, cheias de luz!
Passem por lá e vasculhem o arquivo! O Blog dele é muito bom!!!

"As provações nos depuram na proporção em que nós compreendemos a função delas; na medida em que buscamos por elas um sentido maior que elas nos apontam."

Coraçãozinho duro, encouraçado.
Na mente de quem pensa em tudo
tudo passa, desejo de um mundo de desejos.
Se dessa vida nos restará a lembrança
Ficarei com a tua.
De tudo o que não tive até agora
ao mais nobre que me deste;
Tua verdade.

Era meu Jardim!

Um belo jardim.
Flores e plantas de todos os tipos
Mil cores e aromas delicados.
Entre as pedras, sorrateira, um dia nasceu uma rara.
Tão nova que não haviam registros.
Para dedicação exclusiva, o jardim foi limpo
Nenhuma faixa de grama ou maria-sem-vergonha restou
Apenas a raridade.
Após alguns dias deu lindas flores, de formato e perfume indescritível.
Num gesto descuidado, seus espinhos finos, delicados, entraram na minha pele
Uma injeção de veneno me fisgou,
A visão escureceu e os sentidos se atrapalharam.
Adormeci por dias caído ao seu lado
Sonhei caminhar entre campos forrados dessa planta.
Ria feliz,
Manhã primaveril.
Quando acordei, era murcha, morta.
Na lembrança, o sonho recente: a beleza e o aroma no campo vasto.
O Jardim, era agora campo limpo, sem planta alguma
além das plantadas na memória.
Vivas demais.