terça-feira, 9 de outubro de 2007

Poema Enjoadinho

Noutro dia conversava sobre o plano que todos (ou quase todos) têm em ter filhos, e mais tarde, pelas minhas caminhadas na web soube que uma amiga de juventude, hoje um tanto distante, está grávida. A lembrança deste poema ao vê-la grávida foi automática.
Depois que passa o tempo, depois que temos certas experiências, a ótica muda. Sempre achei este poema engraçadinho, bem torneado, delicado. Mas na verdade é muito mais que isso, é puro e verdadeiro.
Parabéns aos (futuros) papais e mamães, e se você está na dúvida, aprecie o poema com a prudência e delicadeza que a causa merece.

Poema enjoadinho

Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos?
Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

(Vinicius de Morais)

2 comentários:

Ana disse...

É, meu amigo, se não os temos, como sabê-los? E digo mais, quando os temos, mesmo com todas as dúvidas, como não amá-los?
Boa reflexão sobre maternidade/paternidade. Só podia ser do Vinicius!!!

Rodrigo disse...

O Poetinha fez este, se não me engano, quando o Toquinho contou à ele sobre a gravidez do seu primeiro filho, e para quem já teve um, sabe bem as dúvidas e anceios. Um toque de gênio!
Obrigado pela visita e comentário!
Apareça sempre!
Beijos e abraços.