quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pensadura - O Mestre e seu discípulo

Tem uma estória que um grande amigo me contou um dia e faço uso sempre que acho necessária, contando sempre para os outros que se encaixam no contexto. Afinal, para que servem as estórias, se não contá-las?

Dizia que havia num país asiático, no alto de um punhado de montanhas um monge e seu discípulo.
Os dois meditavam num espaço aberto apesar do frio intenso em busca do auto-conhecimento, entendimento do ecossistema e das forças da natureza sobre nós, quando de repente caiu do céu um pássaro congelado.
O discípulo atônito, não conseguiu concentrar-se mais e correu para junto do pássaro. Com seu coração puro, cheio de compaixão, clamou ao Mestre uma explicação para a natureza ser tão cruel e o que fazer com o congelado e indefeso animalzinho.
Neste exato momento, a vaca que pastava a poucos passos defecou uma enorme quantidade daquilo que amanhã viria tornar-se esterco.
O Mestre sem pestanejar mandou o discípulo colocar o pássaro sobre as fezes da vaca.
Relutante, mas confiante em seu mestre, o discípulo acomodou o animal como se fosse aquilo uma cama confortável.
Ainda sobre as ordens do seu Mestre, mas sem muita concentração voltaram ao Mantra e Tantra que haviam parado.
Após alguns instantes o pássaro que quase jazia congelado voltou a piar.
- Piiiu, piiiiiiu, piiiiiiiiu, piu-piu-piu. Piiiiiiiiiiiiiu. A cada piado, o pássaro aumentava o volume e o tom se tornava ainda mais agudo.
O discípulo ficou confortado, realmente feliz por ter salvado o pobre e refletia em seu Mestre a luz que o imaginava ter.
Quando menos esperavam, uma águia (ou gavião, como queira), deu um mergulho rápido e "vlap". Levou-o em suas garras.
Do pássaro somente algumas penas agora caiam do céu.
O discípulo desta vez completamente transfigurado, com um peso de culpa enorme, que inclusive fazia questão de dividir com o Mestre pediu uma justa explicação, afinal por conta deles o pássaro que estava quase morto estava agora sendo destraçalhado pelo bico afiado da ave faminta, sentindo a sensação da morte dura e difícil mais uma vez e o que fazia com que ele, o discípulo, sentisse em suas entranhas cada bicada dada e imaginada, além do frio cortante.
O Mestre olhou-o com sobriedade e muito sereno disparou:
- É simples querido discípulo: Nem todos que te põe na merda querem teu mal. Assim como nem todos que te tiram dela querem teu bem. Mas o mais importante de tudo isso e a lição mais clara desta cena trágica: quando estiveres na merda fique de bico fechado, não dê nenhum piu.

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